A tragédia do RMS Titanic não é apenas uma lição de história, mas um estudo de caso vital sobre a importância de cada componente em projetos de engenharia mecânica, especialmente os rebites. Além das conhecidas falhas de navegação e insuficiência de botes salva-vidas, aspectos técnicos fundamentais contribuíram para a magnitude do desastre.
Embora a resistência do aço do casco fosse adequada, sua tenacidade à fratura em temperaturas de água gelada era notavelmente baixa, devido ao baixo teor de Mn, uma relação Mn/C baixa, um tamanho de grão de ferrita grande e colônias de perlita grandes e grosseiras, gerando microestruturas variáveis devido à inconstância dos insumos e processos de laminação da época.
No entanto, os rebites, essenciais para a integridade estrutural, desempenharam um papel crucial. Estes, feitos de ferro forjado com uma distribuição de silicato de ferro, foram submetidos a tensões residuais (Figura 1) de tração significativas durante o resfriamento e encolhimento, que deveriam unir as placas do casco de forma robusta.
Curiosamente, uma análise detalhada revelou que os rebites continham uma quantidade de escória significativamente maior do que o padrão, de 9,3% +/- 0,3% média, possivelmente comprometendo sua integridade. Sob impacto, a presença de tensões residuais elevadas aumentou a tendência dos rebites de “estourar” e não distribuir as tensões adequadamente, contribuindo para a falha catastrófica das placas do casco.
Este incidente destaca a necessidade crítica de cálculos precisos e tratamento térmico adequado na engenharia mecânica. O correto dimensionamento e tratamento dos rebites, considerando as tensões residuais e as condições ambientais extremas, são fundamentais para garantir a segurança e a integridade estrutural. A tragédia do Titanic serve como um lembrete perene de que até o menor componente pode ter um impacto significativo na segurança geral de uma estrutura complexa.
Referências:
Foecke, T. (1998), Metallurgy of the RMS Titanic, NIST Interagency/Internal Report (NISTIR), National Institute of Standards and Technology, Gaithersburg, MD.
W.A. Garzke Jr., D.K. Brown, P.K. Matthias, R. Cullimore, D. Wood, D. Livingstone, H.P. Leighly Jr., T. Foecke, and A. Sandiford, “Titanic, The Anatomy of a Disaster”, Proceedings of the 1997 Annual Meeting of the Society of Naval Architects and Marine Engineers, SNAME, Jersey City, NJ (1997).
W.A. Garzke, Jr. , Private Communication (1997).